Sadomasoquismo: inato ou não?

Por Metatron

Deixando de lado as contradições históricas, há relatos descrevendo o papel das mulheres como guardiãs da religiosidade, das atividades de cura, do exercício da magia e da própria fertilidade da terra. Como seres capazes de conduzir a vida dentro de si mesmas, e tendo essa cumplicidade/igualdade efetiva com os homens dentro da primeira sociedade organizadamente civilizada de que se tem conhecimento, a mulher dividia o poder com o ser masculino.

 

Assim, não parece muito fácil aceitar a essência dominadora como aspecto constitucionalmente masculino. A Suméria foi o berço da sociedade matriarcal. O culto a Inana previa que a iniciação sexual de uma mulher deveria ser com o primeiro viajante que a escolhesse entre as demais ofertadas, no templo consagrado àquela Deusa. Ela não saberia quem foi ele e muito menos ele teria a noção de quem era a moça, na maioria das vezes uma adolescente. O viajante ao sair deixaria uma oferenda em dinheiro à Deusa, ao seu templo. A garota imolada teria apenas a obrigação de realizar esse ato uma única vez: seu primeiro contato sexual dedicado a Inana. Mas em boa parte das vezes as jovens ficavam de forma mais permanente, mesmo depois de cumprido o ritual, e se tornavam sacerdotisas…. as Hieródulas de Inana. E tudo isso tinha um nome: Prostituição Sagrada.

 

A pergunta básica é: quem detinha o poder? O que chegava do nada e usufruía do que lhe era disponibilizado ou a que conscientemente exercitava sua devoção? Obviamente, há de se convir que, decerto, alguns daqueles que participavam do ritual o faziam também de modo coerente com suas próprias crenças, curvando-se diante da Deusa… Com o passar do tempo e a efervescência de outras sociedades organizadas em formação, essa força geradora inerente ao ser feminino passou a atemorizar os homens.

 

E foi então que se iniciou todo o processo de repressão que se estabeleceu ao longo dos séculos e por todas as civilizações de ambos os hemisférios. Nada de compartilhar poder, nada de dividir, e sim tomá-lo, domá-lo e usá-lo de acordo com as necessidades desses novos Senhores. O que as aparências indicam sim, é que certamente há uma índole potencialmente mais agressiva nos seres masculinos. Possivelmente é o que faz com que se utilizem da força física, da luta explícita, da guerra para a obtenção das suas conquistas.

 

Antagonicamente, excetuando-se o caso das lendárias Amazonas, se de fato existiram, a Dominação feminina se faria pela sensibilidade, suavidade, e até mesmo pela dedicação estratégica simbolizada no ritual referido acima. Mesmo assim, não deixaria de ser Dominação.

 

E o Sadismo/Masoquismo são inatos ou não? Pessoalmente lembro-me de me estimular com cenas de tortura na televisão desde o início da minha adolescência. Nessa mesma época, recordo-me com clareza de algumas situações nas quais imobilizava as quatro patas de um gato, pendurando-o através das amarras a uma cadeira, deliciando-me em seguida com suas contorções desesperadas.

 

Excitava-me, masturbava-me e depois o soltava, sem nunca o machucar de verdade. Depois de mais de dez anos de terapia nunca encontrei nada na minha infância que me tivesse conduzido a ser assim. Dessa forma, não vejo razões para que tenha adquirido um traço de caráter Sádico, mesmo não discordando que isso possa acontecer em muitos casos de acordo com a história de vida de cada um. Só que nesses casos a tendência é que se constitua um perfil patológico, como nas Psicopatias.

 

Ou seja, eu nasci Sádico. Não tenho dúvidas disso. Percebi minha índole e me assumi como Dominador há vinte anos quando passei a exercer o BDSM de modo mais frequente com a primeira das mais de vinte e quatro escravas que me orgulho de ter possuído até os dias atuais. E, indo um pouco mais adiante, minha postura cotidiana é absolutamente pacífica, conciliadora e não conflituosa. O Dominador só surge diante da expectativa do objeto a ser dominado, estando a peça presente fisicamente ou não.

 

Vejo essas características em muitos outros que conheço pessoal ou virtualmente. E assim também o é com as submissas. Sem nenhuma exceção, todas as que passaram pelas minhas mãos são, nas suas vidas pessoais, mulheres extremamente independentes, determinadas e, às vezes, até impositivas ou autoritárias. E isso coincide com inúmeros relatos que já recebi e recebo.

 

Assim, a submissão, analogamente, aflora na medida em que se estabelece a perspectiva da exposição à Dominação Consensual. Portanto, devo concordar com a premissa sobre a quase impossibilidade de transformar alguém em algo para o qual não possua a menor tendência.

 

Parece ser possível sim explorar uma vocação já existente, trazê-la à tona explicitamente e aperfeiçoá-la. Desde que ela exista previamente.

fundo

 

Biografia Metatron: Dominador Sádico, 55 anos, atuante no BDSM brasileiro desde 1988, em torno de 30 escravas nesse período, a maioria iniciada por mim, atualmente mantendo 3 delas: rashna{|M|}, abda{|M|} e {fadilah}, mentorando outras duas, e em processo de iniciação/adestramento de mais duas.

 

Agradecemos a Rainha Sarah por ter enviado o rico texto do Senhor Metatron e ao próprio pela colaboração ao nosso blog.